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Writer's pictureMaria ISAAC

O Questionário de Proust

Qual a tua ideia de pura felicidade? Qual o teu maior medo? Em que ocasiões mentes? Quais as palavras ou frases que usas em demasia?

Estas são perguntas que pertencem a um dos questionários mais famosos do mundo literário: o Questionário de Proust.

Sim, ele mesmo, o autor do clássico francês “Em Busca do Tempo Perdido.”

Descoberto já depois da sua morte, este pertencia aos chamados álbuns de confissões, pelos franceses, cadernos de amizade, pelos alemães… e nós, por cá, também temos a nossa versão portuguesa…. O Caderno de Perguntas.

Aqueles cadernos que circulavam nos tempos de escola, em que era colocada uma questão no topo de cada folha e depois decorriam as respostas numeradas em cada linha … estás recordado? Ou sou só eu?

No episódio de hoje vou falar do questionário de Proust; de como as nossas respostas são reveladoras e de que forma, através delas, construímos a narrativa da mais importante das histórias: a nossa própria vida.


Muito antes de se tornar num dos maiores e mais aclamados autores literários de sempre, Marcel Proust, respondeu a um questionário de uma amiga, parte dos chamados álbuns de confissões - uma versão dos tempos Vitorianos dos nossos testes de personalidade, tão populares na altura como continuam a sê-lo hoje - concebidos para revelar gostos, sensibilidades, e os desejos mais profundos de alguém, numa série de perguntas bastante simples, mas nem por isso menos eficazes.

O original das respostas de Proust, foi descoberto apenas em 1924, dois anos após a sua morte. Décadas mais tarde, um pivô da televisão francesa, viu no questionário, uma excelente ferramenta para tornar as suas entrevistas mais fluidas e começou então a utilizá-lo.

Aceleramos mais um pouco no tempo e, já nos anos 90, a revista Vanity Fair recupera o questionário e inicia uma rubrica, em que várias figuras públicas, são desafiadas a responder ao que fica então conhecido como: o Questionário de Proust.

A iniciativa tornou-se tão popular, que a revista fez uma publicação exclusiva, com todas as 101 entrevistas a estes famosos, que está ainda hoje disponível para compra.

Ao percorrer as respostas das celebridades, encontramos, como seria de esperar, coisas maravilhosas… desde observações provocadoras, reflexões profundas até brincadeiras cómicas… mas todas igualmente curiosas.

Entre estes, para destaques literários, escolho - para além do próprio Proust - a incrível Joan Didion, autora de livros icónicos como “O Ano do Pensamento Mágico” e David Bowie — que a juntar ao seu talento e personalidade singulares, era um leitor fervoroso.

Partilho duas das minhas perguntas e respostas favoritas de cada um deles:

Marcel Proust

Qual a tua ideia de pura felicidade?

Receio que não seja suficientemente grandiosa, não me atrevo a pronunciá-la, temo destruí-la ao falar dela.

Qual a tua cor favorita?

A beleza não está nas cores, mas sim na sua harmonia.

David Bowie

Qual a tua ideia de pura felicidade?

Ler.

Qual a qualidade que mais admiras num homem?

A capacidade para devolver livros.

Joan Didion

Se pudesses mudar uma coisa em ti, o que seria?

Temo que essa “uma coisa” apenas me levaria a outra coisa, tornando esta uma pergunta que apenas os insaciáveis tentariam responder.

O que vês como a mais profunda das misérias?

Miséria é sentir-me alienada das pessoas que amo. Miséria é não trabalhar. Os dois tendem a combinar-se.

O questionário de Proust é composto por 35 perguntas, de diferentes graus de profundidade, e na sua maioria dignas de reflexão para qualquer um de nós, por isso vou deixar o link no blog para que possas espreitar mais tarde.

Quanto a mim, não resisti a responder a todas elas e até a submeter algumas das minhas personagens ao teste… conversa, para outro episódio.

Se quiseres partilhar comigo a tua opinião ou respostas ao questionário, já sabes o email: mariaisaac.pt@gmail.com

Proust dizia acreditar que, ao responder a estas perguntas, revelamos nelas a nossa verdadeira natureza.

É fácil perceber que sim, e o porquê.

Uma resposta sincera pode revelar tanto sobre nós.

No entanto, há que lhe acrescentar a importância da forma como estas respostas são dadas.

Há pouco, nas respostas que partilhei de Proust, Bowie e Didion, a duas simples perguntas, é óbvio o distinto tom de personalidade de cada um deles.

Isto é apenas um questionário, imaginem o quanto pode influenciar a escrita de um livro, ou de toda uma história de vida!

Devemos prestar atenção a como respondemos a perguntas como estas, como narramos os nossos dramas e tragédias, tudo aquilo que, no decorrer dos nossos dias, colhemos e gravamos na memória; quais os significados que lhes damos.

A escrita e os livros estão aqui para nós, para nos ajudar a não esquecer, a lembrar bem, preservar experiências, a ter esperança no que poderá estar para além do óbvio, a encontrar o equilíbrio entre tantos desejos e sonhos que temos.

Tal como o seu protagonista de “Em Busca do Tempo Perdido”, Proust impele-nos a não perder tempo, a apreciar a existência.

Ele deseja ajudar-nos, acima de tudo, a descobrir como viver bem.

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